Chamada para submissão de artigos: Dossiê "Violências em dramaturgias feministas de autoria de mulheres"
A Organização Mundial da Saúde define “violência” como “o uso de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação”. Jinee Lokaneeta, em The Oxford Handbook of Feminist Theory (2016), parte dessa definição para explicar ainda que, apesar de abrangente quanto ao escopo dos males causados pela violência, essa definição não leva em conta as vítimas, os agressores, nem a motivação para o exercício da violência. Para isso, importa, por exemplo, compreender como esse fenômeno tão diversificado ocorre, suas origens e efeitos discursivos e materiais, e também examinar como a violência se relaciona a processos de racialização e de gênero. Lokaneeta aponta três principais tipo de violência: (i) violência estrutural, como aquela que é provocada por forças políticas e econômicas; (ii) violência simbólica e estrutural, que seriam construções discursivas que desumanizam e reificam alguns seres humanos em detrimento de outros; (iii) violência epistêmica, que seriam formas de produção de conhecimento que negam ou desautorizam a agência e subjetividade de algumas populações. Nesse contexto, este Dossiê busca reunir artigos cujos objetos de estudo sejam o texto teatral escrito por mulheres e seus desdobramentos como traduções, interpretações, produção e recepção. Nosso enfoque será a retratação e a discussão de violências praticadas contra mulheres e crianças em textos teatrais escritos nos séculos XIX, XX e XXI. São esperadas discussões relacionadas às tradições teatrais lusófonas e anglófonas, dando ênfase a produções brasileiras, portuguesas, irlandesas e norte-irlandesas, mas não exclusivamente. Com este Dossiê, pretendemos ampliar a compreensão das relações que se dão no teatro a partir do texto, da palavra, mirando as novas escritas dramatúrgicas em sua estrutura rapsódica, compreendida conforme Jean-Pierre Sarrazac em Léxico do drama moderno e contemporâneo (2012). Temos, assim, particular interesse em congregar discussões sobre dramaturgas-rapsodas cujas escritas voltam-se para o ato de dialogarem com narrativas da História oficial, e o de se narrarem em sua condição de mulheres, abrindo a cena teatral para a auto ficção dramatúrgica. Com este Dossiê, pretendemos iniciar diálogos comparatistas de modo a propor políticas de ação por meio do teatro e do texto teatral na resistência e no combate à violência contra mulheres e crianças.
Prazo para submissão: 14 de abril de 2025.
Organizadoras:
Alinne Balduino Pires Fernandes (PPGI e PosDesign – DLLE - UFSC)
Claudia Barbieri (PPG-LETRAS – DLC - UFRRJ)
Valéria Andrade (CDSA-UFCG e PPGLI-UEPB)
Violences in Women Playwrights’ Feminist Dramaturgies
Alinne Balduino Pires Fernandes (PPGI e PosDesign – DLLE - UFSC)
Claudia Barbieri (PPG-LETRAS – DLC - UFRRJ)
Valéria Andrade (CDSA-UFCG e PPGLI-UEPB)
The World Health Organization defines “violence” as "the intentional use of physical force or power, threatened or actual, against oneself, another person, or against a group or community, that either results in or has a high likelihood of resulting in injury, death, psychological harm, maldevelopment, or deprivation." Based on this definition, Jinee Lokaneeta, in The Oxford Handbook of Feminist Theory (2016), explains that, although comprehensive in terms of the scope of the harm caused by violence, this definition does not take into account the victims, the aggressors, nor the motivation for exercising violence. For this, it is important, for example, to understand how this very diverse phenomenon occurs, its origins and discursive and material effects, and also to examine how violence is related to processes of racialization and gender. Lokaneeta points to three main types of violence: (i) structural violence, such as that which is provoked by political and economic forces; (ii) symbolic and structural violence, which accounts for discursive constructions that dehumanize and reify some human beings to the detriment of others; (iii) epistemic violence, which accounts for forms of knowledge production that deny or discredit the agency and subjectivity of some populations. In this context, this Dossier seeks to bring together works whose objects of study are theatre texts written by women as well as its developments such as translations, interpretations, production and reception. Our focus will be on the portrayal and discussion of violence against women and children in theatre texts written in the 19th, 20th and 21st centuries. We welcome discussions related to Lusophone and Anglophone theatrical traditions, with emphasis on Brazilian, Portuguese, Irish and Northern Irish productions, but not exclusively. With this Dossier, we intend to broaden the understanding of the relationships that take place in the theatre focusing on the text, the word, and looking at the new dramaturgical writings in their rhapsodic structure, understood according to Jean-Pierre Sarrazac in Lexique du drame moderne et contemporain (2012). We are, therefore, particularly interested in bringing together discussions about rhapsodic dramatists whose writings focus on the act of dialoguing with narratives from official History, and on narrating themselves as women, opening the theatrical scene to dramaturgical self-fiction. With this Dossier, we intend to initiate comparative dialogues in order to propose action policies through theatre and the theatre text to fight violence against women and children.