Corpo, feminino e desejo: a poesia moderna de Gilka Machado
Palavras-chave:
corpo feminino; desejo; natureza; Gilka Machado.Resumo
Na atual cena literária brasileira, muitos debates têm acontecido sobre a ecopoesia e seus desdobramentos éticos e estéticos. Porém, essa perspectiva de aproximar literatura e ecologia - subjetivação e natureza - foi uma abordagem poética bastante utilizada por escritoras do início do século XX, que buscaram reelaborar certas convenções clássicas ligadas à poesia, com destaque para Gilka Machado, foco de nossa pesquisa. Para isso, conforme aponta Sadlier (2013), a autora buscou relacionar criação poética e autoria feminina, buscando novas formas de dizer e de apresentar questões como o corpo e o desejo a partir da ótica de um eu lírico mulher - da Musa que agora pode, enfim, falar. Dessa forma, nosso objetivo é investigar de que modo a poesia gilkiana lança mão de dispositivos simbólicos para ora sub verter as figurações do feminino disponíveis na cultura ocidental, ora construir imagens inaugurais da autoria feminina conectada à natureza. Assim, como resultado, podemos perceber a utilização de seres não-humanos, como a aranha, a ave em surto, e a serpente, como alegorias de um fazer artístico vinculado a uma subjetividade feminina criadora, desenvolvendo, por consequência, uma consciência poética singular. Tais elementos presentes na obra da autora, em adição à tendência metalinguística de seus poemas, configuram a modernidade da poesia de Gilka, que não procura romper com o passado, mas renová-lo.