Foi um rio: Paulinho da Viola, 1970
Resumo
O presente artigo analisa o segundo LP de Paulinho da Viola, lançado em 1970, como um marco na consolidação de sua assinatura artística. Diferentemente do primeiro disco, este LP apresenta uma sonoridade mais pessoal e característica, marcada pela fusão da voz e violão de Paulinho com arranjos discretos e elementos percussivos. Há três pontos cruciais nesse processo: a forma com que Paulinho evidencia os procedimentos composicionais, comentando a situação política do Brasil na época; o desfazimento da voz autoral, buscando uma integração entre sua voz individual e a voz coletiva do samba; e uma dialética entre a melancolia da tradição do samba e a inquietação diante do novo. Assim, o LP de 1970 marca o início de um projeto poético em que Paulinho da Viola busca uma interação completa com o universo do samba, apagando a voz autoral individual em favor da voz coletiva da tradição. Ao mesmo tempo, o disco apresenta elementos inovadores que apontam para o futuro, revelando a inquietação e a busca por novos caminhos dentro da tradição do samba.