Por uma pedagogia da arte: a experiência estética de Orpheu
Palavras-chave:
Orpheu, decadentismo, modernismoResumo
A proposta deste artigo é a de apresentar o conceito de educação às avessas como fundador da experiência estética de Orpheu. Ao proclamar a autonomia da arte, este grupo de artistas rejeitava o pensamento oitocentista que entrelaça educação e literatura, e que caracteriza o projeto tanto da estética romântica quanto da realista. Promulgando a ideia da autorreferencialidade da arte, o Modernismo português – na contramão da grande tradição do século XIX – rechaça, com veemência, a noção de que o artista seria aquele que tem uma missão social a cumprir. No entanto, ao produzirem uma literatura que visava a romper com uma vertente marcadamente engajada por meio de gestos rebeldes e iconoclastas, os de Orpheu acabaram por propagar o anseio por uma nova pauta de valores autênticos, contribuindo, a seu modo, para a renovação das consciências. Herdeiro das reformulações éticas e estéticas do movimento finissecular – ao qual a sua tertúlia literária declaradamente se filia –, Mário de Sá-Carneiro constrói na sua obra um mundo onírico e abstrato, assinalado pela quebra da lógica e da racionalidade científica, propondo, desta forma, um novo e perverso conceito de educação, que se inscreve no avesso do modelo anterior.