O “relato real” de Javier Cercas em Soldados de Salamina
Palavras-chave:
Representação, Metaficção, Javier CercasResumo
Este artigo apresenta uma análise da obra Soldados de Salamina, de Javier Cercas, considerada pela crítica como um dos melhores romances publicados neste século. Procura-se destacar o caráter metaficcional da obra e analisar como o autor relativiza a exploração do real na narrativa, sobretudo ao duplicar-se como narradorpersonagem. O romance apresenta um complexo jogo entre o real e o ficcional, a começar pelo fato de se propor a narrar a biografia de um personagem da Guerra Civil de 1938, Rafael Sanchez Mazas, um dos fundadores da Falange espanhola, que teria escapado com vida de um fuzilamento. O livro mostra a busca do narrador-personagem Javier Cercas pela história de Mazas, ao mesmo tempo que tenta resgatar sua veia de escritor. Nesse intrincado jogo entre o fato e ficto, o autor reflete sobre questões caras à literatura, como o próprio fazer literário, a construção do herói e sobre a importância da literatura para o resgate da memória pessoal e coletiva, para retirar do esquecimento os verdadeiros heróis que a História não conta. Considerando que boa parte da crítica aponta para um “retorno do real” na literatura contemporânea, a obra em pauta nos provoca uma reflexão sobre a representação da realidade na literatura.