Dialética do papo reto: interlocução conscientizadora em Sobrevivendo no Inferno

Abstract

No disco Sobrevivendo no Inferno (1997) os raps apresentam em abundância o uso da interlocução (quase 200 aparições), menções a um ouvinte que recebe a mensagem. Essas interlocuções têm matizes, no entanto, constatou-se que ¾ delas se dirigem aos manos, ouvintes iguais aos narradores que iniciam a interlocução e que têm função de conscientização. A partir disso postula-se que o objetivo finalista das músicas é conscientizar os irmãos negros pobres de periferia com objetivo de sobrevivência a um cotidiano de extrema violência da São Paulo capital dos anos 1990. Esse movimento de conscientização está em consonância com Nascimento, que postula que esse ato sempre foi visto como uma afronta do povo negro à nação, afinal, todos são iguais no Brasil... Então a conscientização proposta é diametralmente oposta à unificação nacional. Chamei de dialética do papo reto esse aspecto (as interlocuções) que parece ser um princípio formal dos raps em questão. A forma é então coletiva, porque não prescinde do interlocutor e o rap é uma forma empenhada pela sua função social.